preciso confessar uma coisa muito importante antes de explicar como são feitos os tapetes confeccionados em tear por estas bandas (paquistão, nepal, afeganistão, turquia, etc).
quando comecei a desenhar pra marie camille e fui ao nepal pela primeira vez visitar os teares onde eram confeccionados os tapetes, eu fiquei muito impressionada com a pobreza das vilas medievais próximas à kathmandu. os locais onde ficavam os teares eram sujos, escuros, mulheres teciam com crianças amamentando em seus colos... depois da nossa primeira coleção, quando voltei dois anos depois, percebi um grande avanço nas condições de trabalho. os nossos mais de dois mil metros de tapetes tinham feito com que os agenciadores dos teares conseguissem locais bem mais agradáveis para que as pessoas pudessem trabalhar. e depois disto, à cada ano, tudo ficava melhor. hoje em dia, a produção tem sido levada para teares distantes da cidade porque as organizações ligadas ao comunismo chinês (parece até piada) aliciam os artesãos com salários (dinheiro vindo da china) para pertencerem ao partido e parar de produzir tapetes. daí que não temos mais acesso à produção das novas coleções por lá.
mas agora que estamos produzindo no paquistão desenhos contemporâneos, havia muita curiosidade em saber como eram as condições de produção por aqui. com esta visita que fizemos às fábricas parceiras, pude observar locais de trabalho não só agradáveis e limpos, mas, locais deliciosos organizados, com espaços de descanso pros artesãos. uns possuem até mesquita para que todos possam rezar as 5 vezes ao dia, necessárias para os mulçumanos.
na verdade, neste locais, os tapetes não são confeccionados em teares. eles recebem os tapetes vindos de teares principalmente do afeganistão. estes tapetes são feitos dentro de uma lógica de economia familiar por lá. como economia complementar para as famílias, na sua maioria, rural.
isto também me deixou bastante feliz. pros clientes ocidentais é quase um caos. porque as encomendas não possuem um prazo exato para ficarem prontas. sempre vai depender do tempo de cada família. uns param por um tempo pra viajar, porque alguém ficou doente, etc. gostei muito disto. volto feliz pra casa. (além de estar bem feliz com as manifestações que depuseram o ditador na tunísia, o que detonou um processo de manifestações pacíficas em todo o oriente: egito, jordânia, paquistão... acho bem bom que o povo do oriente coloque um freio nos eua, que vêem financiando governos corruptos por aqui em troca de ter apoio e bases militares para ameaçar a china e o irã)... bom, voltando ao assunto tapetes, que pra mim não se separam mais de política:
depois que estes tapetes chegam, daí começa uma etapa de finalização: aparar as sobras, nivelar a lã (que sempre chega em tamanhos irregulares), completar algumas falhas, cortar as bordas, lavar... depois? estrada, container, navio, 6 meses no mar, porto do rio, estrada, belo horizonte!
desenhando ponto por ponto (nó por nó) em escala real num papel
quadriculado que irá para o tear familiar em tribos no afeganistão
inintendível do mundo dos tapetes persas e orientais
a língua maluca: talim (tradução do desenho técnico em papel quadriculado em um dialeto próprio)
aqui o desenho de criação no photoshop e impresso (papel pequeno), o desenho no papel quadriculado em escala real sobre as lãs utilizadas neste desenho + um tapete pronto!
criando novas peças ali mesmo...
discutindo desenhos e técnicas com os donos da fábrica
artesão ao tear acompanhando a linguagem do talim
tear em lahore
lavagem final (antes de um último acabamento)
chão de fábrica
الله