domingo, 4 de abril de 2010

studio makkink & bey









"Studio Makkink & Bey is led by architect Rianne Makkink and designer Jurgen Bey. Supported by a design team, they have been operating their design practice since 2000. Studio Makkink & Bey investigates the various domains of applied art while studying the tension between the private and public domain. Taking a critical stance towards the designing of public space, architecture, interiors, exhibitions and products is pivotal."


na verdade, este escritório é apenas um dos exemplos de como a arquitetura e o design produzidos na holanda se tornaram uma referência de qualidade. em geral, o raciocínio criativo, que incorpora estratégias fortemente baseadas na observação do cotidiano, resulta em objetos e projetos funcionais (ou para alguns autores, hiperfuncionais), econômicos, simples, práticos e muito criativos. não é à toa que a maioria dos exemplos de bom design ou arquitetura postados neste blog tem sua origem por lá. é uma preferência pessoal, "as coisas que eu gosto", mas é uma referência importante pra todo mundo que vem produzindo design, arte, arquitetura, moda e afins.

rastreando as origens dos espaços interiores holandeses, achei legal citar aqui alguns trechos de um livro que adoro - CASA. Pequena história de uma idéia - no qual o autor trata da habitação holandesa e sua importância para a construção do conceito ocidental de domesticidade e intimidade a partir do século XVII:


“houve um lugar onde o interior doméstico do século XVII se desenvolveu de uma maneira que podemos considerar singular e que pode ser descrito como, pelo menos, exemplar.”

“suas universidades estavam entre as melhores da europa; sua atmosfera tolerante em termos políticos e religiosos oferecia asilo para pensadores imigrantes como spinoza, descartes e john locke. este país fecundo produziu não só capitalistas ousados e o mercado especulativo das tulipas, mas também rembrant e vermeer; ele inventou não só o primeiro jogo de guerra de que se tem registro, mas também o microscópio; ele investiu não só nos navios mercantes fortemente armados que iam para índia, como também nas belas cidades.”

“esta república – a primeira da europa – consistia em uma confederação livre governada por um estado geral, que consistia em representantes das sete províncias soberanas, escolhidos dentre a classe média alta patrícia.”

“em uma época em que os outros estados da europa ainda eram predominantemente rurais, os países baixos estavam, rapidamente, se tornando uma nação urbana. habitantes dos burgos devido a uma tradição histórica, os holandeses tinham uma propensão a serem burgueses.”

“a vida cotidiana nos países baixos no século XVII refletia as virtudes burguesas – uma moderação serena, uma admiração pelo trabalho árduo e uma prudência econômica que beirava a parcimônia.”

“apesar de quase um terço dos holandeses ser calvinista, esta se tornou a religião do estado e foi a que exerceu a maior influência sobre a vida cotidiana, contribuindo para a impressão de sobriedade e comedimento que se tem da sociedade holandesa. todas as circunstâncias criaram um povo que gostava de poupar, que desaprovava os grandes gastos, e que, naturalmente, desenvolveu modos conservadores. a simplicidade da burguesia holandesa era expressa de varias maneiras. o traje do homem holandês, por exemplo, era simples. (...) preferiam-se as cores escuras: preto, violeta ou marrom.”

“os holandeses eram tão discretos que nas pinturas da época nem sempre é fácil distinguir o patrão do empregado ou a dona de casa da criada. (...) a mesma simplicidade e ponderação podia ser vista nas casas holandesas, que não tinham a pretensão arquitetônica das casas urbanas de londres ou paris e que eram feitas de tijolo e madeira. (...) o material era valorizado principalmente por sua textura agradável; sem dúvida, seu baixo preço também agradava à mentalidade prática dos holandeses.”

“não havia tantos criados como nos outros países, pois a sociedade holandesa desaprovava a contratação de criados e cobrava impostos especiais para quem empregasse auxiliares domésticos. valorizava-se mais a independência do indivíduo do que em outros lugares. (...) o caráter público da casa grande foi substituído por uma vida caseira mais sossegada e privada.”

“os países baixos tinham, acredita-se, o mais alto nível de alfabetização da europa.”

“os holandeses adoravam suas casas. (...) a palavra ‘home’ (lar) reuniu os significados de casa e família, de moradia e abrigo, de propriedade e afeição. ‘home’ significava a casa, mas também tudo que estivesse dentro ou entorno dela, assim como as pessoas e a sensação de satisfação e contentamento que emanava de tudo isto.”

“a afeição holandesa pelos seus lares era expressa por uma prática singular: tinham-se maquetes minuciosas das próprias casas.”

“ao contrário do interior francês, lotado e frenético, a decoração holandesa era escassa. os móveis deveriam ser admirados, mas também deveriam ser usados, e nunca se enchia um cômodo a ponto de diminuir a sensação de espaço obtida pelo cômodo e pela sua luz. as paredes raramente tinham papel de parede ou cobertura, apesar de serem enfeitadas com pinturas, espelhos e mapas – estes, uma tradição unicamente holandesa. o efeito estava longe de ser austero, nem era esta a intenção. estes cômodos, com uma ou duas cadeiras debaixo de uma janela, ou um banco ao lado da porta, eram intensamente humanos e destinados ao uso privado, mais do que ao entretenimento e à socialização. Eles apresentavam uma intimidade que era incorretamente descrita como ‘serena’ e ‘tranqüila’.”

“a casa não só estava ficando mais íntima, como também estava adquirindo, neste processo, uma atmosfera especial. ela estava se tornando um lugar feminino ou, pelo menos, um lugar sob o controle feminino. este controle era palpável e real. ele ocasionou a limpeza e a imposição de regras, mas também introduziu algo na casa que não existia antes: a domesticidade. (...) se a domesticidade foi uma das principais conquistas da era burguesa, como propõe john lukacs, ela foi, acima de tudo, uma conquista feminina.”

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