o anticristo de lars von trier: sem nenhuma sombra de dúvida, o melhor filme do ano (pra mim)!
os temas são maravilhosamente abordados, os diálogos impecáveis e inteligentes. as relações de poder estão em toda parte.
história, maternidade, natureza, natureza humana, histeria, psicanálise...
mas tb além do tema, o filme tem uma direção de arte maravilhosa!!! tudo meio azulado, esverdeado. bastante etéreo. neblinas, florestas, riachos.
o som é muito bom. para além da música (que é linda), os ruídos.
e a velocidade de algumas cenas torna o filme uma obra prima (a primeira cena é simplesmente uma das mais belas cenas de sexo do cinema)!!!
os atores caíram como uma luva para os personagens.
amei!
salve lars!
associação livre com: a fase azul de picasso... o filme posseção com isabelle adjani... alguns momentos meus de histeria... psicanalistas em geral... homens no poder... medo de mato e bicho... culpa de mãe...
réplica do texto do pondé sobre o filme:
"Anticristo", de Lars Von Trier, é um filme sobre o mal. Com o mal não se brinca, respeita-se.
"ANTICRISTO", DE Lars Von Trier, é um grande filme. A acusação de sexista é típica da superficialidade que assola a atual crítica, antes de tudo por falta de repertório, no caso específico, repertório teológico. Von Trier não teme a patrulha ideológica. É preciso coragem para enfrentar o aniquilamento da inteligência levado a cabo por esses gestores da "mediocridade correta". A ridícula irritação por parte de setores da mídia, cobrando do diretor uma justificativa, é um sintoma. Parte da teologia contemporânea é responsável por essa falta de repertório, na medida em que passou a ensinar uma salada de profetismo iluminista e marxismo espiritual, em detrimento da riqueza teológica de autores como Agostinho ou Lutero.
Além dos elementos que marcam o ambiente do mito da queda, a dedicatória feita ao cineasta-teólogo russo Tarkovski já é uma forte indicação da motivação teológica. Já em filmes como "Dogville" essa temática aparecia centrada na personagem principal, Grace, uma referência ao conceito cristão de "graça divina". O "filósofo" Thomas Edison Jr. (ele mesmo um canalha) pergunta aos seus concidadãos: "Por que somos tão ingratos?". Todo o comportamento dos habitantes da vila remeterá a essa ingratidão para com a boa Grace, ingratidão esta materializada nas torturas a que ela será submetida ao longo de sua via dolorosa.
O "Anticristo" é um filme sobre o mal. Com o mal não se brinca, respeita-se. Não se faz terapia com o mal, esse alerta aparece inúmeras vezes na boca da personagem feminina, que pressente sua tragédia. É ridícula a arrogância do marido diante do processo que está em curso na alma de sua mulher. O filme se abre com a queda do filho para a morte enquanto o casal goza deliciosamente. Ao final, saberemos que ela, de olhos abertos em meio ao orgasmo, vê o filho saltar para a morte, mas opta pelo orgasmo. Mas o que está de fato acontecendo com ela? Seria um "luto normal", como seu marido terapeuta supõe? Não, a morte do filho é a consequência e não causa de sua agonia.
Seu orgulho "científico" o impede, até a sequência final do filme, de perceber que ela não sofre "simplesmente" devido à morte do filho, mas sim pela descoberta do mal que a acometeu desde sua passagem no último verão, sozinha com seu filho, pela casa deles no bosque do Éden, e que sua "escolha pelo sexo" em detrimento do filho a despertou para o pesadelo. Foi esse mal que a levou deixar seu filho morrer. O desejo, habitado pelo mal, se torna uma máquina de tortura contínua, levando o mundo à "descriação" e à desordem.
Não é por acaso que um dos "capítulos" do filme se chama (fato descrito por um dos animais deformados no Jardim do Éden de Von Trier): "Aqui reina o caos". Como aparece no roteiro sua transformação numa personalidade habitada pelo mal? Além da opção pelo orgasmo em detrimento do filho e as terríveis torturas que ela causa no corpo do seu marido e no seu próprio, a descoberta que ele faz ao ler a carta do instituto médico legal após a autópsia do filho é a gota d'água. Os médicos identificam uma deformação nos pés da criança. E por quê?
Durante o último verão, ela deveria escrever sua tese, cujo tema era criticar a suposição medieval de que a maldade seria intrínseca à natureza feminina. Em vez disso, ela descobre que sua natureza era intrinsecamente má: "A natureza é o templo de Satanás", ela diz. Ela descobre o "prazer" de calçar os sapatos no filho invertendo os pés, e assim causar um enorme sofrimento à criança. Só diante das torturas a que é submetido por ela e dessa descoberta o marido muda de posição e percebe que deve levar a sério a fala de sua mulher: "Sou má". Não vou contar o final do filme."
mais uma boa crítica sobre filme:
http://www.trasversales.net/t15ancr.htm
Mas é importante saber que estamos diante de alguém que conhece a antropologia cristã, fruto de muita reflexão e não de mero blablablá ideológico. Pensamos que apenas o darwinismo descreve um cosmo feito de horror. Mas isso não é verdade. Há muito tempo que se sabe que o mundo pode ser um roteiro de horror. O que Von Trier capta é a atmosfera que nosso casal mítico Adão e Eva experimentou após a queda. Não um jardim do Éden onde a natureza é essa criação romântica sem dor, mas uma escura câmara de terror, cheia de gemidos e solidão. A personagem feminina carrega em si toda a tragédia que é ter sido aquela que pressentiu o hálito do mal no mundo e em si mesma. Façamos silêncio em respeito a ela.
uuuuuuuuui!!! acabei de negar esse filme pra Hannah e pegamos "Os excêntricos Tenenbaums". Esse é bom tb, mas ela dormiu... creio que com nosso amado Von Trier seria impossível dormir. rs. bjs, querida! feliz ano novo! e um drink urgente, que tal? besos.
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